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domingo, 16 de julho de 2017

Os românticos

Os românticos não morreram. Não morreram! Os românticos adormeceram, sentados nas pedras da calçada, encostados a uma porta de uma qualquer prédio abandonado, bêbados de amor perdido e esqueceram-se de acordar.
Os românticos não morreram! Vestiram uma capa de adulto, chamaram-lhe realismo e fizeram o mundo acreditar que um rio não é mais bonito do que parece, que o Sol não se espelha nele mais brilhante do que num vidro, e que uma brisa não pode ser tão reconfortante como um abraço!
Os românticos não morreram! Só fugiram. Passaram a correr léguas, vales e montes, para ignorar o que lhes corria no sangue. Fecharam os olhos a sorrisos e compraram malas de executivos, calaram-se para não cantar, sentaram-se para não dançar e dormiram para não verem o mundo esquecer-se do que há de bom e de quão bom é viver.
Os românticos não morreram, esqueceram-se de si mesmos. E, por isso, hoje quando envergonhadamente se mostram, viram notícia de terceira página de um jornal qualquer. Ou vão me negar que associar uma geração inteira à vontade de ter um trabalho com um sentido na vida, e isto lhes ser mais aliciante que o dinheiro, é o romantismo florir? Não é a primeira planta a renascer no meio das cinzas?! A primeira flor depois de um frio inverno?
Ah! Os românticos estão vivos, sim! Vivem em cada pequena frase carinhosa que é partilhada, em cada foto de um pôr do Sol deslumbrante, em cada momento que desligam os telemóveis para não perderam um segundo de convivência com os amigos. Vivem em cada carta que ainda é enviada, em cada poema que ainda é escrito, em cada abraço que não fica por dar.
Os românticos não morreram. Só têm medo de sair à rua.
Os românticos não morreram. Os românticos não podem morrer, pelo simples facto de serem os únicos a acreditar que barcos de cascos rotos não vão ao fundo, que marinheiros sem radares ainda se guiam pelas estrelas, que mundos acabados ainda se podem recomeçar.
Os românticos não morreram. E enquanto existirem sonhos, os românticos não morrem jamais!

(Dedicado à Laura de há 10 anos atrás...)

Just singing in the Rain! 26.10.2007

Actualmente chorar fica mal. Chorar em público é desespero. Chorar sozinho indica solidão. Chorar com amigos é estragar bons momentos. Chorar de emoção é ser-se maricas. Para aguns até o simples e natural choro de um bebé incomoda.
É mais visível que a sociedade caminha a passos largos para uma época de «não-sentimentos». Neste momento, é estranho aquele que sente e o demonstra em qualquer lugar a qualquer custo. Aliás, só aqueles que ganham um certo "custo" é que têm a recompensa de poderem mostrar sentimentos ainda que falsos.
Se há alguns séculos os sentimentos ainda classificavam o carácter de uma pessoa, actualmente é a posição social da pessoa ou a forma como é "vista" é que torna os seus sentimentos nobres, dignos ou banais.
Passámos para um extremo, tornámo-nos a escória de nós próprios no que toca a sentimentos.
Se por um lado abrimos a porta a "novos" conceitos como homossexualidade ou swing, por outro lado encostamos essa mesma porta ao tornarmos os conceitos de amar ou mesmo de amigo tão comuns. A sua utilização não está condicionada ao verdadeiro sentimento, aplicamos essas palavras com mais frequência que dizemos a palavra eu. Tenhamos em conta que mais que tudo, numa sociedade com ausência de sentimentos verdadeiros sobretudo por outros, a palavra eu é uma das únicas que nós, analfabetos, temos no nosso vocabulário.
Precisamente por ficar mal chorar ou rir em público demonstrando o que nos vai na alma, e andar menos stressados com um sorriso nos lábios incomoda, é que eu faço questão de soluçar com os olhos vermelhos, soltar gargalhadas sonantes para o ar ou dançar o "Singing in the Rain" à frente de todos e de cada um que se enerva só por me ver. Precisamos de pessoas assim nesta sociedade, não por enervar os outros mas pelo simples prazer de sentir... sem rédeas.